A doença de Crohn é autoimune, crônica e de causa desconhecida. Pode acometer o trato gastrointestinal, mas não apenas. Hoje em dia existem tratamentos com imunobiológicos que dão mais qualidade de vida ao paciente. Por Dr. Éder Lago

Complicada e difícil, acho que é assim que posso definir a doença de Crohn. E quero começar estas explicações trazendo uma boa notícia: se você sofre com ela ou conhece alguém que tem essa enfermidade, saiba que hoje em dia existem tratamentos avançados, como os imunobiológicos, que podem melhorar muito a qualidade de vida do paciente. Mas antes vamos entender melhor sobre o assunto.

O que é e qual a causa da doença de Crohn?

A doença de Crohn é uma doença crônica, autoimune, porém sua causa ainda é desconhecida. De caráter penetrante e profunda, acreditamos que ela esteja associada a uma desregulação do sistema imunológico, ou seja, das defesas do nosso organismo. Alguns fatores estão envolvidos no desenvolvimento dessa doença, como os genéticos, ambientais, de dieta alimentar e até da microbiota intestinal.

Apesar de poder afetar uma pessoa em qualquer faixa etária, é mais comum entre os 20 a 40 anos de idade. O que mais chama atenção é que a doença de Crohn pode acometer todo o trato digestivo: desde a boca até o ânus. Entretanto, não é uma doença exclusiva do trato gastrointestinal: há casos em que há manifestação ocular, articular e dos canais hepáticos.

Sintomas da doença de Crohn

Não sabemos as causas, mas identificamos os sintomas, que são variados, porém os mais frequentes são: dor abdominal, diarreia, perda de peso, anemia, fadiga, cólica, náusea, vômito, febre, sensação de distensão abdominal. Também pode haver evacuação com sangue, muco ou pus e a doença altera períodos sem qualquer sintoma com um período de exacerbação de início e duração imprevisíveis.

O que é preciso saber é que uma das manifestações da doença de Crohn são as fístulas: passagens anormais entre dois órgãos. Essa comunicação anormal pode permitir passagem de conteúdo intestinal entre 2 partes do intestino, ou de intestino-bexiga, intestino-vagina, intestino-pele. As fístulas são comunicações anormais entre órgãos geradas pelo processo inflamatório e causam muito desconforto.

Quando eu citei lá no primeiro parágrafo que a doença de Crohn é bem complicada, é porque além de acometer o trato gastrointestinal, ela pode se manifestar na pele como eritema nodoso, pioderma gangrenoso e pode, inclusive, acontecer uma manifestação ocular com episclerite. Infecções nas articulações, como artrites, e nos vasos sanguíneos, como tromboses e embolias, também podem surgir.

E como diagnosticar a doença de Chron?

A colonoscopia com biópsia, endoscopia, a enteroscopia com biópsia, além de tomografia ou ressonância são os exames indicados para diagnóstico da doença de Crohn.

Nós, gastroenterologistas, só indicamos a cirurgia em casos muito, muito específicos. Geralmente para os pacientes com episódios graves sem melhoras mesmo com uso de medicações nas doses máximas dentro do tempo de acompanhamento. Para essas pessoas pode ser necessária a cirurgia de retirada de uma porção afetada do intestino, mas vale deixar claro que isso não cura a doença.

Sangramentos graves, que colocam em risco a vida do paciente, abscessos intra-abdominais, que muitas vezes têm de ser acessados por conta de sepse e risco de vida, e as obstruções intestinais, que não melhoram com tratamento clínico, podem necessitar de uma intervenção cirúrgica, entretanto evitamos o tratamento cirúrgico dentro do possível, pois pode alterar o sistema imunológico, que nestes casos, já têm alguma alteração. Vale alertar: retiradas sucessivas de porções do intestino podem resultar na síndrome do intestino curto, causando dificuldade de absorção de alimentos – e levando ao déficit nutricional - e diarreia de difícil controle.

Avanços no tratamento da doença de Crohn

Se você leu até aqui, vai lembrar que eu comecei o texto desse Blog falando sobre o tratamento, isso porquea doença é bem complicada. Mas a boa notícia é que os medicamentos imunobiológicos como o adalimumabe e infliximabe entre outros, trazem resultados expressivos: eles agem bloqueando o fator de necrose tumoral e interleucinas diminuindo o processo inflamatório.

Normalmente os tratamentos começam com corticoides, antiinflamatório intestinal, imunossupressores (lembre-se: é uma doença autoimune) e, por via subcutânea, os imunobiológicos.

Portanto, a doença de Crohn não tem cura, mas tem tratamento. Se você está na faixa de idade em que esta doença é mais comum, converse com um médico da sua confiança para poder investigar